terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Não é Defeito, é o Mau Feitio


O que conseguimos retirar do real não é mais do que uma pequena representação. Não somos muito mais do que várias personagens que se adequam a diferentes contextos.

Não condeno as personagens planas, têm todo o direito ao seu papel e têm deveres perante o mesmo, tal como todas as outras. É neste plano que encontramos as boas pessoas e as simples pessoas de trabalho, metódicas, centradas e reservadas no seu pequeno círculo pessoal/familiar/profissional.

Estas personagens não têm intenções de agitar ou perturbar as águas deste grande lago da representação. Fazem o seu papel bem feito e da mesma forma que são pouco modeladas ao longo da diegese, também pouco interferem com a modelação das outras. Respeito-as porque são pessoas de bem e de princípios firmes, mas pouco mais...

Permitam-me este pequeno desabafo: Que aborrecida seria a vida, se a mesma fosse, apenas e só, constituída por boas pessoas ou por feitios harmoniosos e afáveis.

As personagens redondas desta peça evoluem, modelam-se, inquietam e são inquietadasInterferem e fazem valer a sua opinião. São cores mais ou menos fortes.

Nesta categoria, encontramos os intransigentes, os tiranos, os má rês, os monopolizadores, os que aborrecem porque são chatos, os malandros (A.K.A. espertalhões), os sedutores, os artistas (haveria tanto para dizer sobre estes ), os heróis, os pro-activos, os hiperactivos, os que têm feitiozinho de merda, os que têm mau feitio, etc...

Mariquices à parte, há que saber distinguir o mau feitio, do feitiozinho de merda...

Diria que o feitiozinho de merda é todo aquele que não tem qualquer intenção de facilitar as relações sociais. É intransigente, roça o autoritário e tem comportamentos egocêntricos.
Duvido que este tenha remorsos ou que se preocupe com o Outro. Não deverá haver uma razão justificada para este feitio.

É também importante salientar, que um mau feitio crónico, na minha opinião, não é mais que um feitiozinho de merda em potência ou até mesmo consolidado.

mau feitio é teimoso e persistente. Aborrece-se com facilidade da rotinaignorânciapreguiça e intransigência (o mau feitio faz faísca com o feitiozinho de merda)

mau feitio só o é, quando a isso o condicionam. O feitiozinho de merda assim nasce e assim vai agudizando a sua condição até à morte.

O mau feitio é-o, porque vale a pena sê-lo e vale a pena lutar contra o establishment de ideais bacocos. Além de o inquietar, há também outras razões para o ser.

mau feitio pode ser pro-activo e tentar interferir no que acha que é válido, ainda que não reúna quorum.

Em consciência, o mau feitio admite o erro ou falha, o feitiozinho de merda, por norma não. Chega a contestar o incontestável, ligando o complicómetro.

Ter mau feitio é ter-se consciência de que se é uma cor forte, tal como a própria personalidade. E que vale a pena sê-lo por um bem maior.

mau feitio poderá não estar feliz, mas ambiciona a felicidade como tantos outros. É um estado recorrente mas serve de passagem para um estado melhor.

Chegar mais longe e exigir o melhor de si e dos outros (não obrigar). Existe essa dívida para com quem se gosta.
Ser mais durofirme e assertivo porque o contexto o exige.

Parafraseando uma amiga minha: Se não concordam comigo, provem-me que estou errada e eu assim o aceito.

NOTA: Estas não são definições e/ou conceitos convencionados pelas mais altas esferas intelectuais. É a minha opinião acerca do ideal de mau feitio e outros conceitos.

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